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Na mão ou na cabeça

Termômetros de Infravermelho

Esses aparelhos detectam os raios infravermelhos emitidos naturalmente pelo nosso corpo (como os que formam aquelas imagens de câmeras térmicas de uso militar, por exemplo), e medem a intensidade desses raios, aferindo assim nossa temperatura interna. Essa medição, em geral, não é das mais precisas, servindo apenas para uma estimativa razoável da temperatura do corpo, porém, o erro da leitura tende a ser ainda maior quando a medição é feita de forma errada.

Em meados do ano de 2020, em meio à pandemia de coronavírus, uma informação falsa passou a circular na internet afirmando que esses termômetros não deveriam ser apontados para a testa, pois poderiam causar danos ao cérebro. Naturalmente, esse tipo de afirmação não faz o menor sentido, já que somos nós que emitimos radiação infravermelha sobre o aparelho o qual, por sua vez, não incide nenhum tipo de raio ou energia sobre nós.

Alguns têm mira laser, mas o laser é apenas um feixe de luz no espectro visível, assim como a luz de uma lâmpada ou de uma vela. Os raios UV aos quais ficamos expostos quando vamos à praia em um dia ensolarado são bem mais danosos à nossa saúde do que uma simples mira laser… Além disso, o laser não tem poder de penetração no nosso corpo. Se a luz visível penetrasse nossos corpos seríamos transparentes como em uma visão de raio X! (Os raios X, esses sim, conseguem penetrar nossos corpos).

É difícil entender por que alguém perderia tempo inventando e espalhando esse tipo de mentira, mas o fato é que a temperatura da superfície em algumas partes do nosso corpo sofre mais influência de fatores externos do que em outras. Os termômetros de infravermelho são calibrados para aferir nossa temperatura interna pela testa, pois as artérias temporais, que passam na lateral da testa, mantém aí uma temperatura bem próxima àquela do interior do corpo. Além disso, ele precisa ser posicionado a uma distância adequada.

Um corpo humano saudável tem uma temperatura na faixa dos 36,0 aos 37,5 graus celsius, porém, agora, como regra, as medida estão sendo feitas pelo pulso – uma precaução adotada em supermercados, restaurantes, academias e até consultórios médicos como consequência do boato – e é comum que pessoas tenham suas temperaturas aferidas na casa dos 35,0 ou 34,0 graus, em alguns casos, até mesmo na casa dos 33,0 graus, nada plausíveis para um corpo humano vivo!

Aqui é preciso reconhecer que existem dúvidas razoáveis quanto à utilidade desses termômetros no contexto da pandemia, já que, além da imprecisão na leitura, sabemos que o vírus SARS-CoV 2 pode ser transmitido antes de que a pessoa infectada apresente qualquer sintoma, sendo esta, inclusive, uma das razões de ser tão difícil conter sua propagação. Contudo, esses instrumentos também são utilizados fora do contexto da pandemia, como uma forma rápida e prática de se estimar a temperatura interna de uma pessoa. Agora, seu uso pode ficar completamente obsoleto caso a população, devido a um medo infundado, não permita que eles sejam utilizados da maneira adequada.

Naturalmente, não podemos culpar as pessoas em geral pelo seu desconhecimento quanto às questões científicas e tecnológicas, mas devemos sempre prezar pela confiabilidade das informações que recebemos, e evitar que essas mentiras e boatos que circulam por aí afetem, a troco de nada, nossa saúde e nosso bem estar.

Aldo Fernandes

Aldo Fernandes é doutor em Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e atualmente é professor e pesquisador no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ), Campus Angra dos Reis.

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