Tem pessoas que mudam o rumo da sua vida. O comerciante Darcy Gomes cumpriu esse papel na minha vida quando me procurou para dar uma espécie de bronca. “Você é jornalista e Angra não tem jornal. Você deveria fazer um”.

Era 1976 e eu tinha 23 anos. Não estava nos meus planos ter um jornal. Queria continuar empregado de O Globo e crescer na carreira. Aquela conversa me fez dar uma guinada e então, juntos, e com patrocínio do próprio Darcy, lançamos naquele ano o jornal PRESENTE que durou apenas seis meses. Tempo suficiente para ganhar duas coisas. A primeira o aprendizado que fazer um jornal implicava em ter um plano de negócios que o PRESENTE nunca teve. Sobrava entusiasmo, mas nenhum olhar empresarial. O segundo e maior ganho foi virar amigo de Darcy e sua família. Ele e sua esposa Ednéa Pascoal me adotaram como um filho postiço. Tornei-me irmão de suas filhas. Para receber carinho e eventuais puxões de orelha.

A experiência do PRESENTE me deu base para corrigir erros e lançar o Maré em 1980.

Mas esse artigo é para me despedir de Darcy que estava sofrendo com problemas renais e cardíacos. Filho do também comerciante Catulino Gomes, herdou o gosto pelo ramo de açougues. O principal deles era o Açougue do Comércio onde hoje fica um prédio de cinco andares que pertence à família.

Nascido em 08 de março de 1936. nos anos 50 e 60, Darcy era um jovem que tinha boas condições financeiras para ter os carros importados da época que faziam sucesso com os amigos que nunca separou por classe social. Pelo contrário. Com um sorriso carinhoso sempre ajudou quem precisava, enquanto se envolvia em causas comunitárias, clubes como o Comercial e o Ateneu Angrense de Letras e Artes.

Um fidalgo que nunca levantava a voz. Tinha uma humildade inata e um coração que sempre caberia mais um. O leitor pode achar que estou exagerando, mas se alguém podia ser chamado de anjo de candura era Darcy. Uma postura diante da vida que nunca vou conseguir passar nem perto. Enfim, uma pessoa do bem.

Deus deve ter um lugar especial para gente como o Darcy Gomes que nos deixou nesse dia 4 de agosto. Já está lá com certeza. Seu corpo foi cremado em São Paulo e família marcará a missa de sétimo dia.

Eu só posso terminar esse artigo com um MUITO OBRIGADO POR TUDO.

_{Na foto Darcy Gomes e sua esposa professora Ednea Pascoal no bar do chuveiro no Aquidabã.}